Toca a espreitar

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O dia D (de David)

10 A.M.

Nervosa, segui os conselhos do Dr.A. que tão atencioso me seguiu durante a melhor fase da minha vida. Tantas vezes me dizia "Não tenhas pressa para que nasça, enquanto está na barriga será só teu e a partir do momento em que nascer, será do Mundo, será de todos!" e eu sabia isso, melhor que ninguém, e amava tê lo dentro de mim, mas 42 semanas era mais que suficiente, estava desejosa de o conhecer, de o abraçar e beijar, poderia dizer que também estava desejosa de o amar, mas era mentira, já o amava desde o dia em que aquele pausinho deu positivo. Estava já há um mês em casa, fui obrigada, pois o meu ratinho teimava em não engordar. E lá fui eu ao posto médico esperando a CARTA, a tal que o iria fazer nascer. Nervosa agarrei nela, li-a mil e uma vezes sem perceber o que dizia.

11 A.M.

Seguíamos para o hospital e eu, sem noção do que estava realmente a acontecer. O nervoso miudinho e graúdo atingia me cada vez com mais força. Entrei para as urgências e estive o que me pareceram horas deitada na maca a fazer CTG, volta e meia vinham aquelas contracções a que já há muito estava habituada, mas sem dores. Finalmente a Dra veio ver me, duvidando que já estava no termo da gravidez. Ela e todos que me viam, uma mini barriga e uma mini mamã no auge dos seus 55 Kg (6Kg ganhos em toda a gravidez).
Dali passei para obstetrícia 2 para ficar internada.

15 P.M.

Recebi a visita da médica que "gentilmente" me introduziu o comprimido, para provocar o parto. O papá e a vovó ficaram do meu lado até às 20h. As contracções apareceram cada vez mais dolorosas, mas perante as caras de pânico, fingia que mal sentia.

20 P.M.

A enfermeira mandou os embora dizendo que provavelmente só iria nascer no dia seguinte, que teriam de colocar mais comprimidos para provocar o parto, já que dilatação não tinha nenhuma. Mas eu sentia o contrário e pedi lhes que não fossem muito longe.
Jantei ou tentei jantar, as dores já eram muitas. Deitei-me e ligaram novamente o CTG, obrigando-me sempre a ficar na mesma posição, para que apanhassem o pequeno coração do Pequeno Rei. E ali fiquei, vendo televisão (foi no dia em que o Barack Obama visitou Portugal) e teclando.
A enfermeira veio ter comigo e estranhou o facto de as contracções serem agora menos, mais espaçadas entre elas, mas sabia eu bem mais dolorosas.

21.30 P.M.


Senti algo estranho, como se estivesse a libertar algo, seguido de uma dor cortante como nunca senti antes. Toquei à campainha, e inocentemente expliquei à auxiliar, sem entender o que se passava, ela nem ligou (cálculo que tenham sido as minhas águas a rebentar). A dor voltou uma e outra vez, dolorosa, cortante, insuportável. E eu sem aguentar gritava, tocava campainha e implorava por alguém. Ao longe ouvi-as a falar, sabendo que me ignoram. Sentia-me tão sozinha e tão frágil.

Depois de muita insistência minha, lá veio a enfermeira, ralhou comigo e muito, disse que estava a destabilizar e a assustar os outros pacientes (eu era a única naquele corredor), voltou a ralhar e disse que eu tinha de aprender a respirar (a única verdade e bom conselho que me deu). A dilatação era quase a mesma de quando cheguei, e pedi lhe por favor para me deixar ir ao WC, queria tanto fazer xixi e não conseguia desde que lá cheguei.


Como a minha dilatação previa um parto bem tardio, ela resolveu dar me um injecção para acalmar as contracções. Não sei se deu ou fingiu, porque não senti nada nem deu resultado.
Voltei a ficar sozinha e a implorar por ajuda, as dores intensificavam mais e mais e eu simplesmente não aguentava. Gritei, toquei a campainha completamente assustada e fui ignorada. Mal aguentava as dores e sentia, e sabia que o meu filho estava a sair e elas sem fazerem nada. Uma auxiliar, grávida, não resistiu aos meu gritos e veio tentar acalmar me e eu supliquei-lhe para que pedisse ajuda pois eu sentia o meu filho a nascer (agora que penso nisso, acho que a devo ter traumatizado um pouco), e ela foi como um anjo da guarda, foi chamar a enfermeira e a outra auxiliar. Mal chegaram até mim, gritaram comigo, repreenderam-me, desvalorizaram a minha dor, apesar de eu implorar e implorar avisando que sentia o meu filho a sair. Resolveram chamar o enfermeiro, como homem iria impor-me respeito. Ele chegou e fez tal como elas, ralhou comigo, contou a sua história, que no ano anterior tinha sido operado e tido dores insuportáveis e que as aguentou todas sem gritar. Olhei para ele e no meio de outra dolorosa insisti que sentia o meu filho a sair, e ele resolveu ver... Aí o caso mudou de figura!!


22.25 P.M.

O enfermeiro gritou e gritou, mas desta vez não era comigo, gritou com elas que me deveriam estar a assistir, a vigiar para que não chegasse aquele ponto.


"Mas que merda é esta??? Sua camada de incompetentes!!"

Ouvi gritar e senti-me aliviada por alguém me dar ouvidos, afinal eu sempre tinha razão. E aí começou uma roda viva. Levaram-me do quarto a correr, e eu só me lembrei de inocentemente perguntar
:
"Não vou levar epidural pois não??!" "não!!" "Posso chamar o pai??"

E no meio de dores insuportáveis liguei para o papa e gritei lhe no meio de uma contracção "vem rápido!!", sinceramente nem sei como não o traumatizei com aquele grito.
Gritei pelos corredores cheios de maridos, namorados e futuros papás, que me recordo terem olhado para mim apavorados, aterrorizados. Antes de chegar à sala senti uma vontade de fazer força, mas o enfermeiro pediu para aguentar, para não fazer, para que esperasse pelo pai, provavelmente pediu para que não nascesse em pleno corredor.
Chegamos à sala, passei sozinha para a cama. O papá entrou e aí não esperei mais, sem saber o que fazer mas sabendo na mesma, fiz força uma vez e à segunda ouvi chorar, eram 22.35, chovia como tudo, quando o meu Rei nasceu.Tinha o telemóvel ao meu lado e consegui ver o meu filho a nascer. Puseram-me o meu Rei em cima e eu observei-o atentamente,as dores que sentia não tinham acabado com o nascimento, tinha dores por todo o lado.

E assim que me levaram o meu filho para o vestir, começou o "Inferno", antes do Avi nascer e sem me aperceber fui completamente cortada, e eis que tinha chegado à parte de coser.
Ao fundo enquanto vestia o meu Rei ouvi a enfermeira, que minutos antes ralhava comigo "Que ricos olhos" e essas palavras ficaram sempre comigo!!

Enquanto o papá segurava e babava o seu rebento eu mal aguentava, sentia cada picada da agulha. O arrependimento apareceu pelo modo como fui tratada, e até tive direito a música, enquanto me cosiam.
A minha história correu hospital, pois as visitas não pararam, todos vinham ver a menina "que se tinha portado muito bem", mas eu sei que a história não era bem essa. A minha história correu bem, tive um enorme anjo da guarda, mas poderia ter corrido mal.

E assim, às 22.35 do dia 19 de Novembro de 2010, nasceu o Rei mais delicioso do mundo,com 2,700 Kg e 47 cm de pura elegância e fofura!!!

Na mesma hora renasci também eu, mas como mãe!!!

E assim começou o meu sonho, a minha maior aventura. E eu não poderia estar mais feliz.
E sabem que mais??? O meu filho era pequenino e magrinho, mas era lindo, perfeito e eu já o amava tanto. Nunca mais voltei a sentir me só, passei a viver com o coração fora de mim!!












Beijinhos
With Love
Mamã

2 comentários:

  1. É um verdadeiro tesouro, o Pequeno Rei! E tu foste uma mãe coragem :) Dás-lhe todo o amor do mundo e isso é algo "que salta à vista" de todos os que por aqui passam. És uma grande mãe, disso eu não tenho dúvidas! Mais uma vez, parabéns ao Pequeno Rei e parabéns a ti, linda! <3

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    1. Muito obrigada querida!!! <3

      As tuas palavras encheram me o coração!!! Obrigada

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E assim foi a nossa aventura!! Que acharam???