Diz-me em segredo, tropeçando nas palavras, como se sentisse culpado, ou pior, como se sentisse vergonha em cada uma das palavras que ia proferindo
"Mae eu não gosto de ser menino!"
O coração deu uma espécie de salto estranho, meio acrobata, mas o maldito já esta habituado a estas aventuras malucas, nunca mais teve sossego desde que passou a ser dois.
Nas suas palavras senti mágoa, mágoa que nenhum menino de 5 (ou 30) anos deveria sentir. Percebi de imediato que aquelas palavras não eram apenas aquelas palavras, que traziam com elas um desabafo, um aperto, uma dor que o mantinha calado e envergonhado.
Não consegui chegar ao seu coraçãozinho (enorme) à primeira, nem com palavras directas. Mas Mãe que é Mãe tem super poderes e um deles é conhecer o seu filho como ninguém. Sem falar foi falando, sem querer foi desabafando, deixou me assim desempenhar o meu papel, o de o proteger, o de o amar.
Ouvi-o, senti cada palavra dele, senti cada magoa e o meu coração malabarista fez truques impensáveis, três e quatro piruetas seguidas.
Explicou-me que na escola, havia um menino, que sempre que ele passa a lhe fazia uma maldade e que quando brincavam no recreio ele o prendia contra as grades e não o largava. Se doeu? Doeu! Só eu sei como! Coração de Mãe é enorme, mas por vezes é tão pequenino.
Perguntou-me como deveria reagir com aquele menino, e eu disse-lhe que o melhor truque seria tentar ser seu amigo. Ele olhou-me, abriu aquele sorriso que me derrete e disse
"Que optima ideia Mãe!"
O mal do Avi? É sensível e preocupado com os outros, não conhece a maldade e não entendo porque ela existe. Eu, não entendo como consigo criar um filho bom para o mundo quando o mundo é mau para o meu filho. O meu mal? Não quero influenciar as atitudes dele, não quero que pague na mesma moeda, mas também não quero que seja a vitima. Não quero que seja queixinhas, mas também não quero que se cale. Entendem esta bipolaridade de sentimentos?
Quero que seja ele, que com aquilo que lhe ensino diariamente saiba ter as suas próprias atitudes, consiga resolver os seus problemas, da melhor maneira. Eu ensino-o a ser um bom menino, mas às vezes dá até vontade de desistir.
No dia seguinte expus a situação à educadora que prontamente tratou dela. Falou com o David e com o outro menino. Não sei o que lhe disse, mas o meu David voltou a ser o mesmo! Um menino feliz que adora fazer amigos, um menino que sorri para a vida, um menino que adora ser menino.
E eu não podia estar mais feliz, a partir de agora estou ainda mais atenta às atitudes do meu Rei, quando se zanga, quando está mais em baixo. Tenho tanto medo deste mundo, para onde sou obrigada a libertar o meu filho.
Nunca menosprezem os problemas dos vossos filhos, ouçam-nos, podem parecer pequenos para vocês mas para eles são enormes. E nós somos o seu porto de abrigo, prometemos protege-los sempre!
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E assim foi a nossa aventura!! Que acharam???