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quinta-feira, 16 de abril de 2015

Eu já fui criança [Pedaços da minha Infância]: O [meu] Jardim de Infância

A casa está vazia. As paredes nuas, demasiado nuas gritam silêncio. Os pensamentos fluem a um ritmo alucinante. Levanto-me, curiosa, saudosa, como se tivesse receio de ser apanhada. Dou passos pequenos, demorados, silenciosos. A ansiedade cresce, o coração bate mais rápido.

Encontro-a.

Igual à ultima vez que a vi, portadora dos meus sonhos, guardiã das minhas alegrias. Dona dos medos que me deram coragem, senhora das derrotas que me fortaleceram e transportadora das lágrimas que me fizeram sorrir. Portadora de tudo o que quero guardar e de nada que queira esquecer.

A minha caixa mágica!!

Abro-a....


Sorrio envergonha... e por segundos volto atrás no tempo.

As sensações... os cheiros ... as cores...

Ali guardados, tão bem guardados. Julgava-os já esquecidos, perdidos no tempo (malvado tempo, que sem darmos conta rouba pedaços de nós).

Procuro e encontro. Esta recordação. Inalterada pelo tempo. Recordo, sinto, revivo. Uma vez mais ali estou eu, naquele local, naquele tempo.


"Sabes meu Rei, a Mãe nem sempre foi assim grande, antes era pequenina, bem pequenina e rechonchuda, muito rechonchuda, parecia uma pequena bolinha amorosa (agradece ao pai os teus genes). Mãos papudas como as tuas, cabelo liso da cor do teu. Olhos grande e curiosos, castanhos. Pele branquinha e bochechas vermelhas. Era daquelas meninas que parecia uma boneca de porcelana e a quem dava vontade de apertar as bochechas. Era pequenina, da tua idade. 4 aninhos, quase uma mão cheia deles.

Um dia, a avó teve de ir trabalhar e deixou-me numa casa muito engraçada, primeiro achei-lhe muita piada, não era igual às outras, era diferente. As pessoas eram simpáticas e falavam muito devagar, pareciam ter medo que eu não as entendesse.Sentei-me num dos bancos compridos, com os pés a balouçar sem tocarem no chão (vês era mesmo pequenina). Fiquei sozinha, da porta a avó disse-me adeus. Olhei em volta curiosa e tão envergonhada. Meninos e meninas estavam ali a meu lado. Senti-me desorientada, senti que não pertencia ali, talvez. Mas acima de tudo fiquei confusa, muito confusa. A meu lado estavam 2 meninas que choravam tanto mas tanto. A Ana Isabel e a Vânia. Pareciam também elas duas bonequinhas, uma com os seus enormes olhos verdes e a outra com os seus traços de princesa. Elas choravam e eu não entendia porque o faziam. Elas choravam tal como tu também choraste naquele dia em que te deixei pela primeira vez. Agora entendo o porquê de chorarem, mas na altura não entendia. Eu não chorei, não sei porquê. Mas fiquei triste, e a partir daí fiquei sempre triste, sempre que via alguma das minhas amigas chorarem.

Elas também não eram sempre minhas amigas, nem sempre queriam brincar comigo, às vezes deixavam-me sozinha e até gozavam comigo. Porque eu era muito branquinha e porque era gordinha e porque tinha muita vergonha. Sabes nós não devemos nunca gozar com os nossos amigos, nem recusar brincar com eles. É feio. Mas acima de tudo porque magoamos o seu coração, doi sabes? O coração bate assim muito muito e ficamos tristes.

Tal como tu brincas com o Rodrigo, eu também tinha uma melhor amiga, com quem brincava mais, chamava-se Ana Andreia. Uma menina de cabelos cor do Sol e muito bonita. Ela era também minha amiga e era muito bom.

A nossa brincadeira preferida, era na casinha das bonecas, tínhamos vestidos e sapatos de verdade, de pessoas grandes. Mas havia uns que eram os nossos preferidos e às vezes até nos zangávamos umas com as outras. Mas não fazia mal, logo logo voltávamos a estar todas bem.

À tarde, deitávamos-nos todos no chão, ao pé das nossas almofadas e dormíamos todos juntos as nossas sestas. Às vezes não me apetecia, e a Maria dos Anjos via logo que estávamos a fingir.

Sabes meu Rei, a escola não é fácil, nunca será, uns dias as outras crianças são mázinhas, outros dias somos nós. Uns dias os adultos são maus, outros já são amigos.


Where is mum??? Ahahah
Mas não podemos deixar, temos de brincar muito todos os dias. Temos de ser amigos dos outros meninos, e temos de os deixar serem nossos amigos. E acima de tudo temos de sorrir muitooooooo. Tudo se torna bem mais fácil e mais bonito!!"




Fechei a caixa, com uma lagrimita no olho. Saudosa. Sabe bem recordar. Guardei-a uma vez mais, bem guardadinha. Onde ninguém lá consiga chegar.

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